Evangelos Michelakis é pesquisador de câncer da Universidade de
Alberta que, há três anos, descobriu que uma substância química comum,
não tóxica, conhecida como DCA, abreviação de dicloroacetato, parece
inibir o crescimento de tumores cancerígenos em ratos.
O mecanismo pelo qual DCA funciona é extremamente simples: mata a
maioria dos tipos de células cancerosas através da alteração da forma
como elas metabolizam o açúcar, causando-lhes autodestruição sem afetar
tecidos normais.
Após os testes em animais, Michelakis fez testes de DCA em células
cancerosas humanas em laboratório. Em seguida, conduziu testes clínicos
em humanos. Seus resultados foram encorajadores: o tratamento com DCA
pareceu estender a vida de quatro dos cinco participantes do estudo.
Michelakis não patenteou sua descoberta. Não é porque ele não quer,
mas porque não pode: quando se trata de patentes, DCA é um produto
químico barato, amplamente utilizado, que ninguém pode possuir.
Bom, então eis a questão: se há uma nova substância com potencial de
ajudar muito no tratamento de câncer, porque não ouvimos falar nela?
No mundo de hoje, essas drogas não atraem facilmente financiamento. A
grande indústria da farmácia não está exatamente ignorando o DCA, e nem
suprimindo sua pesquisa; apenas não está ajudando. Por quê?
O desenvolvimento de drogas é basicamente um grande negócio, e
investir na droga sem patente simplesmente não é um bom negócio, porque
não haverá lucro. Em um mundo onde a droga para câncer Avastin –
patenteada pela empresa farmacêutica Genentech/Roche – custa aos
pacientes cerca de 80.000 dólares por ano sem nenhuma comprovação de que
prolonga a vida, não ha espaço para DCA.
Segundo farmacologistas, as empresas farmacêuticas são como outras
empresas que fabricam produtos que devem ser vendidos com lucro. Apenas
um em cada 10.000 compostos estudados por pesquisadores acaba se
tornando uma droga aprovada.
Para chegar à fase de aprovação, os medicamentos devem ser submetidos
a 7 a 10 anos de testes, com um custo total médio de 500 milhões de
dólares, o que pode ser em vão se a droga não receber aprovação de
instituições reguladoras. E mesmo se isso ocorrer, apenas 3 de cada 20
drogas aprovadas geram lucros suficientes para cobrir seus custos de
desenvolvimento.
O lucro é o incentivo para o risco que a empresa corre. E seria quase
impossível lucrar em uma droga como dicloroacetato. Se ele for mesmo
eficaz, então será uma droga ridiculamente barata. Segundo
especialistas, a falta de patenteabilidade está desempenhando um papel
na falta de investigação.
Embora as organizações de saúde dos governos, como o Instituto
Nacional de Câncer americano, deem bolsas para ajudar a financiar testes
clínicos, elas não são suficientes para fazer com que o DCA seja
aprovado como um tratamento contra o câncer.
A pesquisa em DCA se move muito mais lentamente do que se uma empresa
farmacêutica pagasse a conta. Mais o financiamento de base já permitiu
um progresso. Michelakis reuniu cerca de 1,5 milhões em nove meses, o
suficiente para financiar um estudo detalhado do tratamento com DCA em
cinco pacientes com câncer cerebral. Porém, o estudo foi pequeno e não
houve controle com placebo, o que torna seus resultados inconclusivos.
Apesar da escassez de testes clínicos, um médico canadense, Akbar
Khan, prescreve DCA para seus pacientes com câncer. Isso pode ser feito
no Canadá, porque o DCA já está aprovado para o tratamento de distúrbios
de metabolismo.
Segundo ele, 60 a 70% dos pacientes que falharam com tratamentos
padrão responderam favoravelmente ao DCA. A droga foi eficaz, e teve
resultados interessantes: um dos pacientes tinha vários tumores,
incluindo um particularmente preocupante na perna; o DCA estabilizou
significativamente o tumor e reduziu a sua dor.
Atualmente, Khan tem três pacientes com cânceres incuráveis que estão
em remissão completa, provavelmente curados, graças à combinação do DCA
com tratamentos convencionais paliativos (não curativos).
Pequenos estudos, no entanto, não serão suficientes para provar que o
DCA funciona. E sem a ajuda das grandes empresas, isso terá que
acontecer de uma forma singular. Poderia ser uma experiência social, na
qual fundos públicos ajudassem. O grupo de pesquisa está começando a
estabelecer relações com alguns hospitais de câncer de destaque e,
eventualmente, órgãos federais como o Instituto Nacional de Câncer
poderiam perceber que há provas suficientes de sua eficácia e ajudar com
o financiamento.
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