O Grupo
Anhanguera, a maior universidade privada do país, vem promovendo desde dezembro
um verdadeiro ataque à educação com a demissão em massa de professores mestres
e doutores.
Só em São
Paulo foram mais de 1.500 professores em diversas regiões do estado, segundo
levantamento da Fepesp (Federação dos Professores do Estado de São Paulo), mas
há relatos de demissões no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa
Catarina, Mato Grosso do Sul e Goiás, já que a Anhanguera “Educacional”
tornou-se uma empresa com uma agressiva política de compra de outras
instituições de ensino. Só no ABC Paulista a empresa já adquiriu a Faenac, em
São Caetano, a Anchieta e a Uniban, em São Bernardo, a UniA e a UniABC, em
Santo André.
O maior
número de demissões ocorreu na Uniban, universidade com mais de 50 mil alunos,
adquirida em setembro do ano passado pelo grupo por R$ 510 milhões. Das demissões,
80% são mestres e doutores, que serão substituídos por graduados e
especialistas,” rebaixando os salários dos professores, reduzindo a qualidade
do ensino e, obviamente, aumentando o lucro da empresa”, como afirma Cláudio
Jorge, presidente do Sinpro Campinas. Essa monopolização do ensino privado vem
sendo criticada por especialistas da área de Educação, que apontam para uma
desestabilização do sistema educacional e rebaixamento na qualidade do ensino.
Para o
pesquisador de políticas públicas de Educação superior na América Latina,
também da USP, Afrânio Catani, esses grupos de ensino não estão preocupados com
o nível do curso oferecido aos estudantes. “É uma atitude predatória, para
eliminar a concorrência. O salário dos professores é o custo mais alto que têm
e, portanto, são substituídos por profissionais menos qualificados. É mais
fácil nivelar por baixo”, “Para conseguir chegar a mensalidades mais baixas
recorrem à demissão dos professores com alta graduação e o aumento de aulas de
ensino a distância”, afirma o professor de políticas educacionais da
Universidade de São Paulo Romualdo Portela de Oliveira.
Em carta
aberta ao Ministro da Educação Aloizio Mercadante, os professores demitidos
pelo conglomerado Anhanguera Educacional Participações S/A questionam:
“Professores qualificam-se com titulação de mestres e doutores e são
penalizados exatamente porque estudam. Esse é o exemplo que o Brasil dará aos
estudantes? Que o empenho nos estudos é para ser descartado e apenas aqueles
que não procuram aprofundar-se em sua carreira profissional serão premiados?
Será que faremos a exaltação do demérito e não do mérito?”. E conclamam o
ministério para que impeça “a concentração em cartéis e monopólios da
educação”. “A educação é direito da cidadania e jamais pode ser transformada em
mercadoria, como fazem os barões do ensino”, diz a carta.
Os
professores também pedem ao MEC ações que enquadrem “o patronato do ensino na
legislação, bem como adverti-los sobre suas responsabilidades sociais”. E
prosseguem: “A ganância pode até ser interessante para os negócios. Mas seu
caráter predatório é péssimo para nosso país. “Por exemplo, o ensino a
distância transformou-se em fonte bilionária para os donos de escolas, quando
deveria ter caráter complementar e, principalmente, ser levado a regiões
remotas do país.
“Nos
centros urbanos, a adoção desse recurso tecnológico tem servido apenas para a
demissão em massa de professores e para a conversão das horas/aula presenciais
em ensino longínquo, verdadeiro engodo para incautos”.
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