segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Capitalismo: a matriz lógica do darwinismo *



Capitalismo: a matriz lógica do darwinismo. Imagem: Iba Mendes.
“Quanto à outra forma histórica do positivismo, o evolucionismo de Herbert Spencer (1820-1903), esse também se baseava na negação da metafísica e na afirmação das ciências positivas como únicas fontes de conhecimento. Declarava, do mesmo modo que o positivismo de Comte, que, ao homem, caberia investigar apenas o mundo dos fenômenos. Todavia, enquanto para o teórico francês o método era essencialmente descritivo, visando às relações constantes entre os fatos, às leis que permitiriam previsões, para Herbert Spencer, o método tinha por sentido mostrar a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a partir dos mais simples. Enquanto Comte defendia a Ordem por base e o Progresso por meta, Spencer falava em uma lei evolutiva, segundo a qual a sociedade passava de um estado social homogêneo – os primeiros agregados humanos não apresentavam divisão de classes, divisão de trabalho nem diferenciação entre dirigentes e dirigidos – para um estado mais heterogêneo e complexo (id., p. 46). Assim, na acepção de Spencer, o Estado é um organismo que tende a evoluir do estado militar, dominado pela arbitrariedade dos governantes, para o estado industrial, civil e liberal, fundado na lei. Mas, para que isso aconteça, é imprescindível que seu poder se restrinja a funções essenciais como, por exemplo, garantir a segurança da nação e as liberdades individuais. De outro modo, o Estado se constitui em obstáculo para a evolução natural e a diferenciação da estrutura social, que são condições para o progresso. Nesse contexto, o spencerismo se traduz como darwinismo social, ou seja, a luta pela vida e a seleção natural são vistas como princípios que governam a evolução da humanidade:

Em concorrência com os membros de sua própria espécie, em luta com os de outras, o indivíduo debilita-se e morre, ou prospera e se multiplica, segundo esteja dotado. [...] Se os benefícios recebidos por cada indivíduo, fossem proporcionais a sua inferioridade; se, por conseguinte, a multiplicação dos indivíduos inferiores fosse favorecida e obstada a dos superiores, o resultado seria uma degeneração progressiva da espécie; e depressa a espécie degenerada não poderia subsistir ante a q ue estivesse em luta e em concorrência com ela. [...] Uma sociedade humana em luta, ou em concorrência com outras sociedades, pode ser considerada como uma espécie, ou melhor, como uma variedade de espécie; e se pode afirmar que, da mesma forma que outras sociedades ou variedades, sucumbirá se favorecer suas u nidades inferiores à custa das superiores (SPENCER, 1930, p. 104-5).

Para esse teórico, a seleção natural eliminaria os mais fracos, quer dizer, os pobres. Spencer adotava, pois, as mesmas premissas, fundadas no etnocentrismo e no capitalismo, das quais partiu a teoria de Darwin.

A hipótese de que a dimensão social, política e econômica tenha exercido um papel decisivo na elaboração dos conceitos expostos, por Charles Darwin (1809-1882), em Origem das Espécies (1859), parece ter sido ainda pouco estudada (REGNER, 1988, p. 7). Contudo, é inegável que as relações travadas pelos membros da sociedade capitalista em muito se assemelham às relações naturais entre seres vivos, descritas por Darwin.

Conforme Nélio Marco (MARCO, 1993), a missão do Beagle, navio a bordo do qual o jovem Darwin fez sua viagem de estudos, não era, como ele próprio pensava, filantrópica, porém movida a interesses capitalistas. Sua tarefa seria mapear regiões economicamente rentáveis, atendendo às pretensões coloniais da Inglaterra que, em plena revolução industrial, precisava ir, ao redor do mundo, em busca de novas fontes de matérias-primas.

Conquanto o nascimento do capitalismo seja bem anterior à teoria darwiniana, é cabível a hipótese de que Darwin tenha incorporado a sua teoria elementos ideológicos da sociedade em que vivia: 
[...] a imagem que se produziu da natureza como sendo um campo de batalha, competição por toda parte e, justamente devido a isto, em evolução, nada mais é do que a transposição involuntária para o plano das idéias de relações sociais muito concretas (id., p. 46).

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